Joana d’Arc nasceu em Domrémy, na região francesa de Barrois, em 6 de Janeiro de 1412. Filha de camponeses, desde pequena distinguiu-se por sua índole piedosa e devota. Aos 13 anos, declarou que podia ouvir a voz de Deus, que a exortava a ser boa e a cumprir os deveres cristãos. A mesma voz ordenou-lhe depois que libertasse a cidade de Orléans do jugo inglês. Afirmou ainda ter visto o Arcanjo São Miguel, além de Santa Catarina e Santa Margarida, cujas vozes ouvia.
Quando as lutas entre franceses e ingleses se aproximaram de Barrois, Joana d’Arc não retardou por mais tempo o cumprimento das ordens sobrenaturais. Partiu da sua aldeia e obteve de Robert de Baudricourt, capitão da guarnição de Vaucouleurs, uma escolta para guiá-la até Chinon, onde se achava o rei da França, Carlos VII, então escarnecido como “rei de Bourges” em alusão às reduzidas proporções dos seus domínios.
O país estava quase todo em mãos dos ingleses. Os borgonheses, seus aliados, com a cumplicidade de Isabel da Baviera, entregaram a nação ao domínio britânico, pelo Tratado de Troyes. Inspirada por extraordinário patriotismo, Joana comunicou ao rei a insólita missão que recebera de Deus. Nesse encontro, em março de 1428, assombrou a todos pela segurança com que se dirigiu ao rei, que lhe entregou o comando de um pequeno exército para socorrer Orléans, então sitiada pelos ingleses. No caminho, a atitude heróica da humilde camponesa atraiu adesões para as tropas que comandava.
Chegando a Orléans, Joana intimou o inimigo a render-se. O entusiasmo dos combatentes franceses, fortalecido pela estranha figura da aldeã-soldado, fez com que os ingleses levantassem o sítio da cidade. O feito glorioso de Joana d’Arc, pelo qual foi cognominada a Virgem de Orléans, aumentou o seu prestígio, mesmo entre os soldados inimigos, e alimentou a crença no seu poder sobrenatural. A coragem da heroína realizou efectivamente o milagre de erguer o espírito abatido da França. Um sopro cívico perpassou pela nação. Joana d’Arc, porém, ambicionava nova missão: levar o rei Carlos VII para ser sagrado na catedral de Reims, como era tradição na realeza francesa, o que ocorreu em 17 de Julho de 1429. Na tentativa que se seguiu da retomada de Paris, a heroína foi ferida, o que contribuiu para aumentar o patriotismo de seus conterrâneos.
No ataque que empreendeu a Compiègne, em Maio de 1430, Joana foi aprisionada pelos borgonheses. Em vez de executá-la sumariamente, como poderiam ter feito, preferiram planear uma forma de privá-la da auréola de santa por meio da condenação por um tribunal espiritual. No jogo de interesses políticos que envolveu a sua figura de heroína, Joana d’Arc não encontrou apoio por parte do rei.
Em Junho, o bispo Pierre Cauchon surgiu no acampamento de João de Luxemburgo, onde se encontrava a prisioneira, e conseguiu que ela fosse vendida aos ingleses. Ambicioso, desejando obter o bispado de Rouen, então vago, Cauchon faria tudo para agradar aos donos do poder. Sem direito a defensor, confinada numa prisão laica e guardada por carcereiros ingleses, Joana d’Arc foi submetida por Cauchon a um processo por heresia, mas enfrentou os juízes com grande serenidade, como revela o texto do processo.
Para transformar a pena de morte em prisão perpétua, assinou uma renúncia em que prometia, entre outras coisas, não mais vestir roupas masculinas, como forma de demonstrar a sua subordinação à igreja. Dias depois, por vontade própria ou por imposição dos carcereiros ingleses, voltou a envergar roupas masculinas. Condenada à fogueira por heresia, foi supliciada publicamente na praça do Mercado Vermelho, em Rouen, em 30 de Maio de 1431. O seu sacrifício despertou novas energias no povo francês, que finalmente expulsou os ingleses de Calais. Joana d’Arc foi canonizada em 1920 pelo papa Bento V.
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